Quando um ilhéu, um aldeão e um clube da distrital enfrentam um grande… isso é Taça de Portugal – Diário de Notícias
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Desde 2015-16 que os 18 representantes da I Liga estão obrigados a entrar em ação na 3.ª eliminatória da prova na condição de visitantes. O sorteio ditou que o FC Porto, vencedor das últimas duas edições, iniciasse a defesa do troféu diante do Vilar de Perdizes, emblema da aldeia mais mística do País, 6.º classificado da Série A do Campeonato de Portugal, onde o azar também é rentabilizado e a multiculturalidade é bem-vinda.
O jogo é amanhã, no Estádio Municipal de Chaves, dia em que o Benfica, recordista de taças (26) joga no Estádio João Paulo II, casa dos açorianos do Lusitânia, também do 4.º escalão do futebol português e que lideram a Série C.
O Sporting jogará no conforto da região, visitando o vizinho Olivais e Moscavide, dos distritais de Lisboa, no Estádio José Gomes (Amadora), ainda com a memória da eliminação precoce diante do Varzim, do 3.º escalão, em 2022.
Pediram o FC Porto, o sorteio fez-lhes a vontade e eles festejaram. Enfrentar um grande do futebol português era tudo o que o Vilar de Perdizes podia pedir desportiva e financeiramente. Amanhã, como disse o treinador Vítor Gamito, “é preciso perder o respeito pelo adversário e dignificar as poucas possibilidades de vencer” o detentor da Taça de Portugal.
Será a primeira vez que o emblema do Concelho de Montalegre, no Distrito de Vila Real, irá defrontar uma equipa da I Liga. Com um orçamento a rondar os 150 mil euros, a maior parte da verba assumida pelo município, o pequeno clube da aldeia com cerca de 400 habitantes festeja um recorde de bilheteira por antecipação – os bilhetes custam 10 euros!
O jogo é no Estádio Municipal Eng.º Manuel Branco Teixeira, em Chaves, uma espécie de segunda casa. É lá que jogam na condição de visitados no Campeonato de Portugal e é na cidade, que dista 28 km da aldeia, que vivem quase todos os jogadores da equipa, onde cabem nove nacionalidades (portuguesa, colombiana, guineense, brasileira, norte-americana, tobaguenha, senegalesa, francesa e costamarfinense). André Raymond chegou ao futebol português em 2019 vindo de Trinidad e Tobago para jogar no Länk Vilaverdense, mas acabou por terras de Trás-os-Montes à procura de mais minutos em campo.
Há também um ex-dragão no plantel. Marcelo Tadeu tem 22 anos e nasceu em Santos, no Brasil, onde começou a jogar futebol. Chegou ao FC Porto com 14, mas nunca se chegou a afirmar. Passou ainda por Espanha e França, até chegar a Montalegre.
Fundado após o 25 de Abril (1976) por um grupo de amigos, o Vilar de Perdizes nasceu com o nome da terra, onde orgulhosamente se mantém apesar das dificuldades inerentes ao futebol amador e a uma interioridade atroz e isoladora.
Atualmente, o Grupo Desportivo de Vilar de Perdizes é presidido por Márcio Rodrigues (36 anos), um filho da terra que assumiu o clube em 2010 e com a ajuda da família – a mulher é diretora na formação, o pai faz parte da direção, o irmão é team manager e a mãe trata da lavandaria – o manteve de pé e alavancou dos distritais até aos nacionais, onde milita no Campeonato de Portugal pela primeira vez esta época. Em 2015-16 qualificou-se pela primeira vez para a Taça de Portugal, prova que agora lhe permite enfrentar os dragões.
O clube tem apenas sete equipas – quatro delas de formação em futsal, além das seniores masculina e feminina e futebol de onze. O futsal tem 170 atletas e dado mais alegrias do que o futebol. E até foi criado o Troféu Padre Fontes, o sacerdote que colocou a aldeia no mapa com a Noite das Bruxas (31 de outubro) e é uma das figuras mais emblemáticas de Vilar de Perdizes. Foi ele que tornou a aldeia conhecida a nível nacional evocando bruxas, azares e jantares de sexta-feira 13.
Sexta classificada da Série A do Campeonato de Portugal, a equipa orientada por Vítor Gamito enfrenta agora o FC Porto de Sérgio Conceição. Para o capitão Moreno, será um “sonho” tornado realidade para todo o grupo e por isso há que “desfrutar” do momento, que para muitos será único na carreira.
A freguesia dos Olivais pertence a Lisboa, a de Moscavide a Loures. Juntas dão nome ao emblema centenário fundado em 1912. Há 111 anos que o Clube Desportivo dos Olivais e Moscavide sobrevive à vizinhança de dois grandes, o Benfica e o Sporting, o adversário de sábado. A proximidade geográfica com o emblema de Alvalade (7km) foi benéfica para o clube dos Distritais de Lisboa, que ao longo dos anos recebeu vários jogadores por empréstimo, casos de Miguel Veloso, Pereirinha, Fábio Paim, Márcio Santos, Mauro Caramona, Duarte Machado, Hugo Évora, Carlos e André Marques ou Celestino.
As ligações aos verdes e brancos não se ficam por aqui. O atual treinador, Ricardo Barão, é filho de Francisco Barão, um histórico dos leões, que venceu cinco títulos pelo Sporting entre 1978 e 1982. O técnico garante que no sábado o pai é mais um adepto dos lingueirões e Francisco Barão confirma, dizendo que vai ao estádio ver o jogo com os dois netos e espera que a equipa do filho dificulte a vida ao amigo Rúben Amorim… com quem Ricardo tirou o curso de treinador de II nível.
E pode dar-se o caso dos irmãos Marquês se defrontarem. Pedro joga no Olivais e Rodrigo no Sporting B, tendo sido chamado aos treinos de preparação do jogo da Taça de Portugal durante esta semana.
O clube da distrital da Associação de Futebol de Lisboa já defrontou o Sporting na Taça de Portugal em março de 1995 e acabou goleado (6-1). Ficou a experiência de quem enfrentou os leões com a camisola dos lingueirões, casos de Hélder Guia, Melo e Sequeira (autor do golo de honra), que foram a um treino esta semana contar como foi jogar com o Sporting da altura, onde atuavam jogadores como Luís Figo, Oceano, Carlos Xavier e Sá Pinto, e dar conselhos a quem agora volta a ter essa oportunidade.
Devido à condicionante do sorteio que estipula que os clubes da I Liga jogam fora na 3. ª eliminatória, o Olivais e Moscavide fez a festa mesmo sabendo que não poderia receber os leões em casa. O jogo será na Reboleira e os bilhetes custam entre 10 e 20 euros.
O presidente Gonçalo Candeias e os associados do clube queriam receber o vizinho no Estádio Alfredo Marques Augusto, em homenagem a “Alfredo Caganita”, que, sendo funcionário da Câmara Municipal de Lisboa, arranjou maneira de o clube grená ter um campo com dignidade e que hoje tem bancadas com 2730 lugares. Mas, assim podem ver a receita quadruplicar à boleia dos adeptos rivais, uma vez que o Estádio José Gomes tem capacidade para cerca de 10 mil pessoas.
Afastados dos campeonatos profissionais desde 2006-07, são uma das três equipas dos Campeonatos Distritais ainda em prova – as outras são o Atlético Clube da Malveira e o Santa Maria.
Para além do futebol, a instituição de utilidade pública da Zona Oriental de Lisboa distingue-se na prática desportiva em diversos escalões do basquetebol e atividades recreativas e socioculturais inerentes à vivência citadina de um clube que se aguenta de pé à 11 anos.
Receber o Campeão Nacional no Estádio João Paulo II, a casa do Lusitânia, na Ilha Terceira, nos Açores, obrigou a horas e medidas extraordinárias, segundo o presidente Luís Carneiro, que teve de contratar assistentes de recinto do continente para garantir a segurança do jogo da 3.ª eliminatória da Taça de Portugal. Apesar disso, espera honrar os 101 anos da história do clube satélite do Sporting – é a delegação nº 14 . A receita de cerca de 175 mil euros está garantida com lotação esgotada. Serão sete mil nas bancadas e cada um pagou 25 euros.
Fundado por um grupo de amigos que se reuniam habitualmente na Sociedade Filarmónica de Instrução e Recreio dos Artistas e lhe deram o nome do avião “Lusitânia”, em homenagem à travessia transatlântica de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, tornou-se um dos mais emblemáticos clubes açorianos, sediado no palacete onde nasceu e viveu a aristocrata Violante Canto, que foi comprado em 1962 com a ajuda dos sócios e de alguns mecenas.
Foi o primeiro clube dos Açores a disputar um Campeonato Nacional em 1978-79. Tal como o clube-mãe, o Sport Club Lusitânia sempre foi um emblema eclético, mas as dificuldades financeiras levaram os responsáveis a abdicar do atletismo, ciclismo, andebol e hóquei em patins, mantendo apenas o futebol e reativando recentemente o basquetebol – estão na I Divisão e já ganharam uma Taça da Liga – e o futsal.
Foi no Lusitânia que Mário Lino jogou até 1958, quando se mudou para o Sporting, onde venceu dois campeonatos, uma Taça das Taças e uma Taça de Portugal. O primeiro açoriano a chegar à seleção (1961) foi homenageado no ano passado, no centenário do emblema açoriano, que orgulhosamente se autointitula como “o Clube mais Campeão dos Campeões Açorianos”, mostrando os mais de 500 troféus que tem no museu como prova disso.
Quando passou à 3.ª eliminatória da Taça de Portugal, o técnico Ricardo Pessoa pediu um grande e viu o desejo realizado no sorteio. A receção ao Sporting seria mais desejada pela relação umbilical ao emblema de Alvalade, mas defrontar o Benfica não é menos importante. A equipa lidera a Série C do Campeonato de Portugal e conta com um ex-benfiquista no plantel – António Legatheaux, médio que fez a formação nas águias entre 2009 e 2013 – e a experiência de Diogo Careca, que em 2016 defrontou o Sporting na prova ao serviço do Praiense.
Apesar de já ter defrontado duas vezes o FC Porto na Taça de Portugal, em 1973-74 (8-0) e 1979-80 (2-0) na condição de visitante, há na ilha uma natural ansiedade com a primeira receção a um grande do futebol português. O capitão tem esperança de poder surpreender o campeão em título. “É claro que há alguma ansiedade. Não é todos os dias que se joga com o Benfica, mas estamos a encarar com tranquilidade”, disse Rui Santos, guarda-redes e único açoriano entre os habituais titulares, sem medo de ver pela frente Di María, Rafa ou Musa.
Será o segundo encontro do Benfica para a Taça de Portugal nos Açores, onde em setembro de 1957 venceu (2-0) o Angrense, antes de golear os açorianos em Lisboa (10-0).