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Presidente da Liga Portugal e da Associação de Ligas Europeias defende que «o futebol é a expressão dos mais elementares valores humanos»
A decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia sobre a criação da chamada Superliga resultou numa impressionante demonstração de união do universo futebolístico. Estava em causa uma sentença que prometia não deixar pedra sobre pedra no edifício desta indústria movida pela paixão de milhões de adeptos. O que se viu, como reação, foi um ato coletivo poderoso em defesa do Futebol. Este é o caminho.
Passaram-se cerca de dois anos e meio desde que o projeto de uma competição de clubes organizada com propósitos e segundo critérios exclusivamente comerciais, em favor de uma suposta elite, se apresentou como uma ameaça ao futebol tal como o concebemos. O dia em que a Justiça se pronunciou resultou numa onda de reações em defesa dos valores que constituem a essência do jogo.
O tempo jogou a favor da sensatez dos organismos internacionais, traduzida numa evidente capacidade de adaptação, com a sempre presente ambição de uma melhoria contínua. O cada vez maior envolvimento dos adeptos no jogo, e a forma clara como também eles se manifestaram na defesa do futebol tal como o conhecemos hoje, deixou também evidente a natureza danosa do que é proposto nessa Superliga.
O processo foi de tal forma lúcido e elucidativo que, quando, esta semana, foi conhecida a sentença do Tribunal de Justiça da União Europeia, a reação do Futebol foi muito mais impactante do que o acórdão. Diria mesmo: mais forte do que qualquer acórdão que pudesse resultar do processo em causa. O Futebol não vive à margem da Lei. Nada tem a temer quando as regras são questionadas na Justiça.
Também não vive à margem da sociedade. Pelo contrário. O Futebol é a expressão dos mais elementares valores humanos: o direito a sonhar, a crescer, a ir mais longe, a desafiar quaisquer limites impostos à partida.
Foi em nome desses valores que os principais stakeholders (UEFA, European Leagues, ECA e FIFPRO) da indústria se uniram — numa conferência de Imprensa histórica que juntou os presidentes Aleksander Ceferin, eu próprio, Nasser Al-Khelaifi e David Terrier — para garantir que a essência do jogo é inatacável e que o Futebol não está à venda. As principais ligas e clubes de variada dimensão foram também unânimes na garantia de que o desporto que amamos, que nos faz sonhar, que nos fascina pela certeza de que não existem impossíveis, jamais será refém da ganância de quem pretende desvirtuá-lo. Não há e nem pode haver cedências.
No Futebol e para o futebol, todos são iguais: na ambição, nas expectativas. Iguais nas oportunidades. Por isso somos intransigentes nesta matéria. Estamos alinhados com a UEFA, o regulador legítimo desta nossa indústria que só faz sentido num modelo competitivo aberto, assente no mérito desportivo anual de cada clube nas ligas nacionais, e solidário no financiamento da formação, que constitui a garantia de que este ciclo de sonho virtuoso não se esgota: num bairro, numa escola, no mais modesto clube, continuará a germinar a certeza de que é possível chegar ao patamar do sonho. Esta é, de resto, a lógica de união no crescimento que a Liga Portugal tem em prática dentro de portas, numa cultura agregadora, de apoio desde a base até à pirâmide que tem vindo a ser consolidada, para benefício de todos os agentes desportivos.
Quem ama o Futebol tem a noção clara de que a existência de diferentes patamares competitivos é apenas parte do encanto e de que só o todo faz sentido nesta história interminável de ambição e esperança e teimosia que se escreve em cada desafio, cada temporada, cada vitória ou dissabor no caminho de um sonho que até pode nunca passar disso mesmo — mas, terá garantido, sempre, o direito a ser posto à prova. Em campo, que é onde se jogam e se ganham os sonhos.
Por vezes, na História, somos chamados a defender o óbvio. Como presidente da Liga Portugal e da European Leagues, foi um orgulho dar voz a todos os que amam o futebol pela sua essência, no dia em que, juntos, reiterámos a garantia de que continuaremos unidos a trabalhar para que o direito a sonhar se mantenha vivo para todos — jamais apenas para alguns. É esse o Futebol que nos une.
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